domingo, 6 de dezembro de 2015



O rei de um país distante apaixonou-se por uma bela pastora. Tendo-se a ela declarado a pastora lhe respondeu corresponder aos sentimentos, feliz o rei abdicou de toda a sua majestade, poder, glória e demais benesses de seu real estado para se fazer um humilde pastor e assim estar mais perto daquela que amava, no entanto a pastora longe de o buscar e aceitar esta prova de amor lhe é infiel indo-se com uns e com outros em devaneios e paixões aviltantes, deixando o rei-pastor só com seu sentimento de abandono mas sempre guardando a esperança de que a sua amada regressará algum dia aceitando o seu amor sincero e vivendo unidos atinjam a felicidade. O poema que se segue da autoria de São João da Cruz conta esta mesma história colocando Cristo no lugar do rei que se faz pastor por amor de uma pastora (Alma Humana) sofrendo com a sua indiferença e infidelidades recorrentes sempre acreditando nas falsas promessas de renovação e juras de amor sincero. Nada pede e tudo dá mas a pastora prefere buscar a sua felicidade longe do seu amado deixando-o abandonado e ferido no peito. Não lhe doí, diz o poema ver-se assim atormentado mas doí-lhe pensar que a pastora não guarda a sua memória ou seja dele não se recorda. É um amor incondicional como o de Cristo para com as nossas Almas por quem se apaixonou e sendo rei se fez pequeno para melhor a poder desposar.

 Um pastorzinho só está apenado,
Alheio de prazer e contento
E na sua pastora posto o pensamento
 E o peito de amor muito magoado.

 Não chora por ter-lhe o amor chagado
 Que não lhe pesa ver-se assim afligido,
 Ainda que no coração esteja ferido
 Mas chora por pensar que está esquecido.

 Que só de pensar que está esquecido
 Da sua bela pastora com grande pena
 Se deixa maltratar em terra alheia,
 O peito do amor muito magoado.

 E diz o pastorzinho: Ai, desditado
 Daquele que do meu amor fez ausência
 E não quer gozar a minha presença,
 E o peito pelo seu amor muito magoado.

 E ao cabo de muito tempo se elevou
Sobre uma árvore abriu seus braços belos
 E morto se ficou assim com eles
 E o peito do amor muito magoado.

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